quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Casado com a vida

Eu me ralo, me lanho, me lasco, dou a cara pra bater, mas não recuo da vida. Mergulho nela sem medo, vou fundo. E ela me castiga, às vezes, me arranca lágrimas, me escorraça, me põe à prova. Mas, no final, vem sempre me acarinhar, me oferecer uma bebida e mostrar novas saídas. Sabe por quê? Porque somos casados, eu e a vida. A vida é a primeira mulher de um malandro, sempre. A vida é meu amor bandido.

Eu tento acertar, tento andar em linha reta, tento ser homem de uma nega só. E até consigo, quando estou apaixonado. Mas aí vem ela, a vida, e me arrebata. Conspira e sempre dá um jeito de me desviar dos meus sonhos de amor, arranca-me as possibilidades de romances pacíficos, daqueles com sabor de fruta mordida, como dizia Cazuza. E travamos o seguinte diálogo:

Malandro: Vida, o que você faz comigo? Pra onde quer me levar?


Vida: Eu não faço nada, apenas aconteço. Eu te amo e você me ama, por mais que reclame de mim! Não importa para onde eu te leve.


Malandro: Mas eu quero a sorte de um amor tranquilo, de construir histórias comuns, com uma mulher comum...

Vida: Você é diferente demais para ter a sorte dos homens comuns. Você é malandro, você tem estrela, tem labaredas, é feito de inferno e céu.

Malandro: Mas eu quero ser um homem comum, porra! Pelo menos por algum tempo.

Vida: Às vezes, você parece se esquecer de que casou comigo, com a Vida. Esse casamento tem preço alto. Mas, por outro lado, tem suas vantagens.

Malandro: Me diz uma delas, por exemplo?

Vida: Já reparou como você se supera, a cada tranco que eu lhe dou? Já reparou como você ressurge das dores, dos problemas, das feridas, como uma fênix que nunca perde o prumo do voo?

Malandro: É... Se você diz... Fazer o quê? Continuar, né?


Depois de conversar com a Vida, lembrei-me das palavras da Marcinha, minha amiga-irmã, diante das minhas crises. “Marcio, é impressionante a sua capacidade de ressurgir das trevas, como uma fênix! Vejo você como um moleque levado que se joga na vida, cai, se rala todo, sente a dor, chora, e logo se levanta, pronto pra outra, como se não tivesse tempo a perder." Isso me fez refletir.

Pois então, Vida, aguarde-me! Lá vou eu! E vou com tudo, como um raio, e sem caixa de primeiros socorros! Quem se defende da Vida não aprende e não merece viver.

Um comentário:

M. disse...

Imagine se vc ia casar com qq uma? ;)

A Vida, essa sua 'senhoura', ainda há de lhe fazer muito feliz.

bjs :*